O Budismo parte, não da noção do ego como fazem as religiões de origem semita, mas da realidade totalmente empírica do sofrimento; seu trampolim espiritual não é o recipiente que somos, mas o conteúdo que vivemos: o “eu” é um conjunto efêmero de sensações, daí a aparente negação da “alma”, que resulta da mesma perspectiva que a aparente negação de “Deus”. O Budismo é apenas lógico consigo mesmo ao negar a continuidade da alma sensorial.
É somente quando esse recipiente abstrato que é o ego se torna, por sua vez, conteúdo empírico, que intervém a perspectiva metafísica que, por sua vez, exclui a fortiori todo egocentrismo. O Budismo se torna metafísico quando o “eu”, no processo de extinção, é percebido concretamente como “desejo” e, consequentemente, como “dor”.
(Frithjof Schuon, Perspectives spirituelles et faits humains PSFH)