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Pela beleza de sua arquitetura militar e monástica, pelo fervor do culto angélico e do ideal cavaleiresco que evoca, o Monte Saint-Michel apareceu, ao longo dos séculos, aos peregrinos e turistas, aos artistas e historiadores, como um lugar sagrado do cristianismo, mas também como uma obra-prima da Arte sacra universal, comparável às pirâmides egípcias pela amplitude de suas proporções, a ciência e a fé de seus construtores.
No entanto, entre as numerosas obras dedicadas à famosa abadia desde o século XVII até nossa época, sem excluir os notáveis trabalhos de erudição recentemente publicados por ocasião do milênio monástico, nenhuma teve como objetivo principal estudar o Monte Saint-Michel como um monumento inspirado pelo esoterismo antigo e medieval, a fim de tentar, nessa perspectiva, interpretar seus símbolos e decifrar seus enigmas. Este é o objetivo do presente ensaio, seguido de um estudo histórico sobre a Ordem de São Miguel, por Charles de Cossé-Brissac.
Este santuário, cujos contrafortes, arcobotantes e pináculos parecem incitar o espírito a uma ascensão perpétua, parece destinado, de fato, tanto à meditação sobre seu ensinamento simbólico quanto à pesquisa das datas e fatos relacionados a seus aspectos materiais e suas transformações. Os mais ignorantes peregrinos medievais, os mais humildes “michelots” de outrora, em sua busca do sobrenatural manifestado miraculosamente no mundo visível, viam com um olhar muito diferente dos eruditos modernos “o castelo de Monsenhor São Miguel, primeiro cavaleiro, que, pela causa de Deus, vitoriosamente, lutou contra o antigo inimigo da linhagem humana e o derrubou do céu”…
A um de seus juízes, o próprio Cauchon, interrogando Joana d’Arc sobre suas aparições e perguntando-lhe insidiosamente se São Miguel estava nu, a “Virgem da Lorena” respondeu:
— Pensais que Deus não tem como vesti-lo?
— Ele tinha cabelos?
— Por que lhos teriam cortado?
— E o que ele vos disse?
— Que vos respondesse corajosamente. Ele me disse ainda: “Aceita tudo com resignação, não te preocupes demasiado com teu martírio; tu chegarás finalmente ao Reino do Paraíso.”
Só o Arcanjo podia fazer essa promessa. Não era ele, depois de Cristo, o “Chefe admirável da Igreja”, Ecclesiae Dei post Christum dux admirabilis, e o “Preposto do Paraíso”, Michael praepositus Paradisi?