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Aquele que vê a inação na ação e a ação na inação, esse é inteligente entre os homens; ele é um homem de sabedoria estabelecida e um verdadeiro realizador de todas as ações.
Bhagavad-Gîtâ, IV. 18
A atividade exterior (obras) pertence ao domínio temporal, e a atividade interior (contemplação) pertence ao domínio espiritual. O ‘contemplativo’ aceita na natureza das coisas o lugar legítimo da ação, mas frequentemente o ‘ativo’ parece incapaz de avaliar a plena validade da contemplação. E, no entanto, ‘Vós sois o sal da terra; mas se o sal perder o seu sabor, com que se há de salgar? para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens’ (Mt. V. 13). Sem a existência da ação, o contemplativo perderia seu corpo e vida e o suporte substancial que estes oferecem em seu trabalho espiritual; sem a existência da contemplação, o ativo perderia sua alma. É-se, portanto, advertido: ‘Tende sal em vós mesmos, e paz uns com os outros’ (Mc. IX. 50).
De um ponto de vista mais profundo, é somente Deus quem age, daí o ditado escolástico: ‘Para agir, é preciso ser’ — no sentido de que toda ação deriva sua validade do Ato Divino que emana do Puro Ser, e é legítima na medida em que participa dele, sendo as atividades profanas consideradas pouco mais que agitação.
Seguindo o Vedanta, Guénon explica que ‘a ação não pode ter o efeito de libertar da ação, e suas consequências não se estendem além dos limites da individualidade, encarada ademais integralmente, na extensão de que é capaz.180 A ação, qualquer que seja o tipo, não se opondo à ignorância que é a raiz de toda limitação, jamais poderia bani-la; somente o conhecimento dispersa a ignorância, como a luz do sol dispersa as trevas, e é então que o “Si Mesmo”, o princípio imutável e eterno de todos os estados manifestados e não manifestados, aparece em sua realidade suprema’ (La Métaphysique orientale, pp. 20–21).