DRG
Em RGAI, Guénon salienta que a palavra hebraica qabbalah tem o significado de transmissão, e que designa “Tradição”, tal como a entendemos, e isto de forma ainda mais precisa, pois designa, nesta última, a sua parte esotérica e iniciática, ou seja, o que é o mais interior, o mais elevado e o que constitui a sua própria imagem, para ser franco, o espírito.
Porém, sendo este termo de origem hebraica, é lógico que seja utilizado para designar a forma especificamente hebraica de “Tradição”. A raiz Q B L, em hebraico e árabe, escreve Guénon, indica o vínculo, a relação, entre duas coisas que se situam frente a frente. Desta ideia surge a imagem da passagem, da recepção, que é expressa pelo verbo quabal, tanto em hebraico como em árabe, do qual decorre a qabbalah, que pode ser traduzida como “aquilo que é recebido”, em latim traditum.
Por outro lado, Guénon insiste no caráter completamente original e específico da “Ciência dos números” que, como sabemos, constitui o elemento central da doutrina hebraica, mostrando que as fontes neoplatónicas talvez não tenham desempenhado o papel que se reivindica sobre este assunto, tanto mais que a própria origem da língua hebraica sugere uma anterioridade da prática das correspondências “alfabético-numéricas”.
Guénon pensava, aliás, que a ciência das letras e a alquimia eram na realidade uma única ciência, o que abre campos de correspondência de rara riqueza hermenêutica.
(RGAI, cap. IX, “Tradição e Transmissão”. FTCC, “Cabala”, “Cabala e Ciência dos Números”, “Cabala Judaica”.)
Veja Hebraico, Idioma, Metatron, Shekinah, Número, Sephiroth.