GTUFS
Não se deve cansar de afirmá-lo: a origem de uma criatura não é uma substância material, é um arquétipo perfeito e imaterial: perfeito e, consequentemente, sem qualquer necessidade de uma evolução transformadora; imaterial e, consequentemente, tendo sua origem no Espírito, e não na matéria. Certamente, há uma trajetória; ela não parte de uma substância inerte e inconsciente, mas procede do Espírito – a matriz de todas as possibilidades – até o resultado terreno, a criatura; um resultado que brotou do invisível em um momento cíclico, quando o mundo físico ainda estava muito menos separado do mundo psíquico do que em períodos posteriores e progressivamente “endurecidos”. Quando se fala tradicionalmente de creatio ex nihilo, significa-se, por um lado, que as criaturas não derivam de uma matéria pré-existente e, por outro lado, que a “encarnação” das possibilidades não pode de forma alguma afetar a Plenitude imutável do Princípio. (FSDH, Aspectos do Fenômeno Teofânico da Consciência)
Na expressão creatio ex nihilo, a palavra nihil determina o significado da palavra ex: assim, ex não pressupõe uma substância ou um recipiente, como é normalmente o caso, mas indica simplesmente a possibilidade em princípio – possibilidade essa que é negada precisamente pela palavra nihil no que diz respeito à criação –, tal como a palavra “com” indica um objeto possível, mesmo na expressão “com nada”, que na verdade significa “sem objeto”. Portanto, não faz sentido culpar a fórmula teológica em questão por sugerir uma substância extra-divina e, com isso, um dualismo fundamental; isso equivaleria a brincar com palavras e levar muito a sério as pequenas fatalidades da linguagem.
Obviamente, a criação “vem de” – esse é o significado da palavra ex – uma origem; não de uma substância cósmica, portanto “criada”, mas de uma realidade pertencente ao Criador e, nesse sentido – e somente nesse sentido –, pode-se dizer que a criação está situada em Deus. Ela está situada n’Ele no que diz respeito à imanência ontológica: tudo, de fato, “contém”, sob pena de não existir – por um lado, o Ser e, por outro, um Arquétipo ou “Ideia” dado; o “conteúdo” divino é ipso facto também o “recipiente” e é-o mesmo a priori, uma vez que Deus é a Realidade como tal. Mas as coisas estão “fora de Deus” – todas as Escrituras sagradas atestam isso – no que diz respeito à contingência, portanto, no que diz respeito aos fenômenos concretos do mundo. (FSJM, Ex Nihilo, In Deo)
Ex nihilo pode significar: “do nada que poderia ser externo a Deus”; mas este significado é estritamente esotérico, porque pressupõe a compreensão da doutrina da Total Possibilidade, e, portanto, da homogeneidade do possível. (FSOC, Ambiguidade Teológica e Metafísica da Palavra Ex)