Guénon
(DRG)
Para René Guénon, o Desapego representa a entrada no “estado de repouso” – condição que equivale a um vazio metafísico, caracterizado pela completa liberação em relação ao mundo manifestado, compreendido em sua natureza contingente, impermanente e transitória.
Este estado de Desapego produz dois efeitos essenciais:
- Protege o ser das agitações e vicissitudes existenciais
- Permite transcender o “fluxo das formas”, conforme expressão guenoniana
Tal processo é simbolizado pela passagem “da circunferência ao Centro”, imagem que sintetiza a jornada espiritual do exterior ao Princípio.
(Referência: RGSC, cap. VII – “A resolução das oposições”)
Ver também: El-Faqr (a pobreza espiritual), Vazio
Schuon
GTUFS
O desapego é o oposto da concupiscência e da avidez; é a grandeza da alma que, inspirada por uma consciência dos valores absolutos e, portanto, também da imperfeição e da impermanência dos valores relativos, permite à alma manter sua liberdade interior e sua distância em relação às coisas. A consciência de Deus, por um lado, anula, de certa forma, tanto as formas quanto as qualidades, e, por outro lado, confere-lhes um valor que as transcende; o desapego significa que a alma está, por assim dizer, impregnada de morte, mas também significa, por compensação, que ela está consciente da indestrutibilidade das belezas terrenas; pois a beleza não pode ser destruída, ela se retira para seus arquétipos e para sua essência, onde renasce, imortal, na bem-aventurada proximidade de Deus. (EPV, As virtudes no caminho)
Desapego / Apego: É preciso observar, em primeiro lugar, que o apego é da própria natureza do homem; e, no entanto, ele é chamado a ser desapegado. O critério da legitimidade de um apego é que seu objeto seja digno de amor, isto é, que nos comunique algo de Deus e, mais importante ainda, que não nos separe Dele; se uma coisa ou criatura é digna de amor e não nos afasta de Deus, – caso em que indiretamente nos aproxima de seu modelo divino –, pode-se dizer que a amamos “em Deus” e “para Deus”, e assim em conformidade com a “memória” platônica e sem idolatria e paixão centrífuga. Ser desapegado significa não amar nada fora de Deus ou, a fortiori, contra Deus: é, portanto, amar a Deus ex toto corde. (EPV, As virtudes no caminho)