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Por fim, o Caminho pode ser concebido como uma viagem às regiões subterrâneas (em busca de um “tesouro” enterrado, por exemplo), que são propriamente infernais, e então é chamado de “Descida aos Infernos”; a ênfase do presente capítulo, dada a sua posição no livro, recai necessariamente sobre este último ponto de vista:
“A morte e a descida ao Inferno, de um lado, a ressurreição e a ascensão ao Céu, do outro, são duas fases inversas e complementares, sendo a primeira a preparação indispensável para a segunda, o que também pode ser reconhecido sem dificuldade na descrição da “Grande Obra” hermetista; além disso, o mesmo é claramente afirmado em todas as doutrinas tradicionais. Assim, no Islã, encontramos o episódio da “viagem noturna” de Maomé, que inclui igualmente a descida às regiões infernais (isrâ), seguida da ascensão aos vários paraísos ou esferas celestiais (mirâj): e certas partes desta “viagem noturna” apresentam semelhanças com o poema de Dante202 que são particularmente impressionantes” (Guénon: L’Ésotérisme de Dante, pp. 36–37). O equivalente cristão, nem é preciso dizer, é a Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo.
A Descida ao Inferno, do ponto de vista iniciático, é a exploração da alma — o exame, a ordenação e o domínio de todas as possibilidades latentes no reino psíquico, “desencadeadas”, por assim dizer, no processo desse trabalho, mas excluídas em grande medida da consciência da pessoa profana. “Poder-se-ia chamar isso uma espécie de ‘recapitulação’ dos estados antecedentes, pela qual as possibilidades relacionadas ao estado profano serão definitivamente esgotadas, a fim de que o ser possa doravante desenvolver livremente as possibilidades de uma ordem superior que ele carrega em si mesmo, e cuja realização pertence propriamente ao domínio iniciático” (Guénon: Aperçus sur l’Initiation, p. 183).