Filosofia e Razão

GTUFS

Na opinião de todos os pensadores profanos, filosofia significa pensar “livremente”, na medida do possível sem pressupostos, o que é precisamente impossível; por outro lado, gnose, ou filosofia no sentido próprio e primitivo da palavra, é pensar de acordo com o Intelecto imanente e não apenas por meio da razão. O que favorece a confusão é o fato de que, em ambos os casos, a inteligência opera independentemente de prescrições externas, embora por razões diametralmente opostas; que o racionalista, se necessário, tire sua inspiração de um sistema pré-existente não o impede de pensar de uma maneira que ele considera “livre” – falsamente, pois a verdadeira liberdade coincide com a verdade – da mesma forma, mutatis mutandis: que o gnóstico – no sentido ortodoxo do termo – se baseie extrinsecamente em uma determinada Escritura sagrada ou em algum outro gnóstico não o impede de pensar de maneira intrinsecamente livre, em virtude da liberdade própria da Verdade imanente, ou própria da Essência que, por definição, escapa às restrições formais. Ou ainda: que o gnóstico “pense” o que “viu” com o “olho do coração”, ou que, pelo contrário, obtenha sua “visão” graças à intervenção – preliminar, provisória e de modo algum eficiente – de um pensamento que assume então o papel de causa ocasional, é indiferente em relação à verdade, ou em relação ao seu surgimento quase sobrenatural no espírito. (FSSVQ, Traçando a noção de filosofia)