Filosofia Moderna

GTUFS

Assim que um pensador acredita ter encontrado a causa dos fenômenos, outro filósofo surge para acusá-lo de não ter encontrado a causa da causa, e assim por diante, ad infinitum. Isso mostra que, quando a filosofia se torna “arte pela arte”, ela não passa de uma busca pela causa da causa da causa, levada a cabo em um estado de total engano mental e sem a menor possibilidade de chegar a uma conclusão; no caso da sabedoria genuína, por outro lado, sabe-se de antemão que a verdade completa pode e deve brotar de qualquer formulação adequada como uma faísca de um pedra, mas que ela sempre permanecerá incomunicável no que diz respeito à sua infinitude intrínseca. Buscar, como fazem os pensadores modernos e como fizeram certos escritores antigos, formulações completamente adequadas, capazes de satisfazer todas as necessidades causais, inclusive as mais artificiais e as menos inteligentes, é certamente a mais contraditória e a mais infrutífera das ocupações; a “busca” dos filósofos, portanto, não tem nada em comum com a dos contemplativos, uma vez que seu princípio básico de adequação verbal exaustiva se opõe a qualquer finalidade libertadora, a qualquer transcendência da esfera das palavras. Não é de se admirar que, após séculos de raciocínio insatisfatório — insatisfatório porque, em princípio, incapaz de satisfazer —, as pessoas tenham se cansado do que é considerado, com razão ou sem razão, “abstrato”, e que se voltassem, infelizmente, não para a realidade “concreta” que existe dentro de nós e que os sábios da antiguidade e os santos sempre conheceram, mas, pelo contrário, para uma falsificação exterior, ao mesmo tempo endurecedora e dispersiva nos seus efeitos, e totalmente ilusória. Os inovadores, niilistas e “construtivistas” afirmam que desejam “recomeçar do zero” em todos os campos, como se fosse possível ao homem recriar-se a si mesmo, criar a inteligência com que pensa e a vontade com que deseja e age; em suma, como se a existência do homem não viesse de outro lugar senão das nossas próprias opiniões e desejos. (FSLT, Abuso das ideias do concreto e do abstrato)