GTUFS
Algo deve ser dito sobre a prioridade da contemplação. Como se sabe, o Islã define essa função suprema do homem no hadith sobre ihsan, que ordena ao homem que “adore Alá como se O visse”, pois “se tu não O vês, Ele, no entanto, te vê”. O cristianismo, por sua vez, exige primeiro o amor total a Deus e só depois o amor ao próximo; agora, deve-se insistir, no interesse do primeiro amor, que este segundo amor não poderia ser total, porque o amor a nós mesmos não o é; seja ego ou alter, o homem não é Deus. De qualquer forma, decorre de todas as definições tradicionais da função suprema do homem que um homem capaz de contemplação não tem o direito de negligenciá-la, mas, pelo contrário, é chamado a se dedicar a ela; em outras palavras, ele não peca nem contra Deus nem contra o próximo – para dizer o mínimo – ao seguir o exemplo de Maria nos evangelhos e não o de Marta, pois a contemplação contém ação e não o contrário. Se, de fato, a ação pode ser oposta à contemplação, ela não é, no entanto, oposta a ela em princípio, nem é exigida além do necessário ou exigido pelos deveres da posição do homem na vida. Ao nos humilharmos por humildade, não devemos também humilhar as coisas que nos transcendem, pois então nossa virtude perde todo o seu valor e significado; reduzir a espiritualidade a um “humilde” utilitarismo – e, portanto, a um materialismo dissimulado – é ofender a Deus, por um lado porque é como dizer que não vale a pena preocupar-se excessivamente com Deus e, por outro, porque significa relegar o dom divino da inteligência ao nível do supérfluo. (FSCI, O Caminho)