Humanitarismo

GTUFS

O “humanitarismo” apresenta-se, de fato, como uma filosofia fundada na ideia de que o homem é bom; mas acreditar que o homem é bom é quase sempre acreditar que Deus é mau, ou que Ele seria mau “se existisse”; e como os homens modernos acreditam cada vez menos em Deus – à parte um “deísmo” científico totalmente inoperante – eles derramam sobre os representantes de Deus o ressentimento que gostariam de mostrar contra o próprio Deus: o homem é bom, pensam eles, mas as religiões são más; os padres, que inventaram as religiões para reforçar os seus próprios interesses e perpetuar os seus privilégios, são maus, e assim por diante. É a inversão satânica do axioma tradicional de que Deus é bom e o homem é mau: Deus pode ser chamado de “bom” porque toda a bondade possível deriva Dele e toda qualidade expressa – de maneira “indiretamente direta” – Sua Essência, e não apenas tal ou tal função; e o homem é mau porque sua vontade não se conforma mais com a natureza profunda das coisas, portanto, com o “Ser” divino, e seu falso “instinto de autopreservação” se torna o advogado de toda paixão e toda ilusão terrena. (FSSG, Vicissitudes de diferentes temperamentos espirituais)

Sem dúvida, alguns dirão que o humanitarismo, longe de ser materialista por definição, visa reformar a natureza humana por meio da educação e da legislação; ora, é contraditório querer reformar o humano fora do divino, uma vez que este é a essência daquele; tentar fazê-lo é, no fim das contas, provocar misérias muito piores do que aquelas das quais se tentava escapar. O humanitarismo filosófico subestima a alma imortal pelo próprio fato de superestimar o animal humano; ele é de certa forma obrigado a denegrir os santos para melhor branquear os criminosos; um parece incapaz de existir sem o outro. Daí resulta a opressão dos contemplativos desde a mais tenra idade: em nome do igualitarismo humanitário, as vocações são esmagadas e os gênios desperdiçados, pelas escolas em particular e pela mundanidade oficial em geral; todo elemento espiritual é banido da vida profissional e pública [[Por outro lado, por uma espécie de compensação, a vida profissional assume cada vez mais um ar “religioso”, no sentido de que reivindica o homem inteiro, sua alma e seu tempo, como se a razão suficiente para a condição humana fosse alguma empresa econômica e não a imortalidade.]], o que equivale a retirar da vida grande parte do seu conteúdo e condenar a religião a uma morte lenta. O nivelamento moderno – que pode se autodenominar “democrático” – é o próprio antítese da igualdade teocrática das religiões monoteístas, pois se funda, não no teomorfismo do homem, mas em sua animalidade e rebelião. (LSelf, O Significado da Casta)