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É olhando para o “estado de sonho” que Guénon examina mais de perto o próprio processo da imaginação, isto é, literalmente, a criação de imagens pela mente. Estas imagens, resultantes da individualidade de cada ser, são, para Guénon, “tantas “formas ilusórias” (mayavirupa), ainda que o indivíduo não “possua atualmente uma consciência clara e distinta delas”. Dentro deste todo “ideal” e puramente abstrato, “a alma vivente (jivatma) é a sua própria luz, produzindo através do efeito do seu único desejo (kama), um mundo que procede inteiramente de si mesmo, e cujos objetos consistem exclusivamente em concepções mentais, que isto é, combinações de ideias revestidas de formas sutis, dependendo substancialmente da forma sutil do próprio indivíduo, das quais esses objetos ideais não são, em suma, tantas modificações acidentais e secundárias. Vemos, portanto, que a Imaginação é uma faculdade cujo limite deve ser medido, e especialmente a incapacidade de se aproximar do domínio das verdadeiras essências, incapaz de perceber o que por si só é absolutamente real (paramarthika), isto é, o Eu (Atma), o Eu “que não pode ser alcançado de forma alguma”, lembra-nos Guénon, “qualquer concepção que, em qualquer forma, esteja encerrada na consideração de objetos externos e internos”. O conhecimento imaginativo do “estado de sonho” ou do “estado de vigília”, que não ultrapassa o quadro muito estreito da “manifestação formal da individualidade humana”, é, portanto, um conhecimento reduzido, muito geralmente impreciso e, por definição, incompleto, e ainda, mais grave ainda, profundamente enganoso.
Além disso, agravando ainda mais esta tendência para a irrealidade que acabamos de sublinhar, a Imaginação é agora, devido à dificuldade dos ocidentais em ir além do sensível, muitas vezes confundida com o concebível, e por isso introduzida em áreas que normalmente lhe deveriam ser proibidas, a Imaginação assume então uma importância invasiva, cujo perigo o mundo virtual de hoje confirma.
(RGEME, cap. VI, “Considerações analógicas extraídas do estudo do estado de sonho”. HDV, cap. XIII, “O estado de sonho ou a condição de taijasa”. CMM, cap. VII, “Uma civilização material”.)
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