Guénon
DRG
O Islão é, no seu primeiro e verdadeiro sentido, antes mesmo de se fazer alusão à Revelação histórica da Lei, ao Profeta que lhe fornecerá através do Livro (Quorân) as suas particularidades sociais e a sua codificação fundamental, “submissão à Vontade divina”. É por isso que se afirma, em certos ensinamentos esotéricos, escreve Guénon, “que todo ser é “muçulmano”, no sentido de que obviamente não há ninguém que possa escapar a esta Vontade, e que, consequentemente, cada um ocupa necessariamente o lugar que lhe foi atribuído em todo o Universo”. A distinção feita pelo Islão entre os seres que são chamados de “fiéis” (mûmi-nîm) e aqueles que são considerados “infiéis” (kuffâr), “consiste apenas no fato de os primeiros se conformarem consciente e voluntariamente à ordem universal, enquanto, entre estes últimos, há alguns que apenas obedecem à Lei contra a sua vontade, e outros que estão na pura e simples ignorância”. É esta primeira abordagem que representa a compreensão inicial e universal do Islão, e permite que seja recebido e aceite por todos os homens, porque ninguém pode ser estranho à Lei e à Vontade do Altíssimo (Alá), o Único e Único Deus, o “Primeiro e o Último” no seu sentido mais Absoluto.
Allah, o Perfeito, é o “Coração dos corações, o Espírito dos espíritos” (Qalbull-qulûbi wa Rûhul-arwâh), ele é a “Luz primordial”, “a Luz dos céus e da terra”, para a qual todas as orações dos homens devem ser dirigidas, porque não há outro senão Ele a quem dar glória. É no reconhecimento disto que o Islam é particularizado e especificado com precisão, admitindo que não há nada além de Allah, o Único.
(RGSC, cap. XXV, “A árvore e a serpente”. RGAI, cap. XLVII, “Verbum, Lux et Vita”. SFCS, cap. LI, “A Árvore do Mundo”, cap. LXI, “A Cadeia dos Mundos”. AEIT, cap. I, “Esoterismo Islâmico”, cap. III, “ Et-Tawhid”, cap. IV, “El-Faqru”, cap. V, “Er-Rûh”, cap. VIII, “Influência da civilização islâmica no Ocidente”.
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Schuon
GTUFS
O Islã é a Mensagem da Unidade e, portanto, do Absoluto e da Essência, e isso implica, em princípio, que, juntamente com as simplificações e impasses da teologia – cuja autoridade no Islã é, afinal, um tanto flutuante –, ele oferece todos os mistérios que a Unidade compreende por sua natureza; que, em consequência, postula não apenas a transcendência, que é separativa por definição, mas também a imanência, que é unitiva e que liga o homem existencial e intelectualmente à sua Origem divina. (FSCIVOE, A ideia do “melhor” nas religiões)
O Islã… procede através da sinceridade na fé unitária; e sabemos que essa fé deve implicar todas as consequências que decorrem logicamente de seu conteúdo, que é a Unidade, ou o Absoluto. Primeiro, há al-iman, a aceitação da Unidade pela inteligência do homem; depois, uma vez que existimos tanto individualmente quanto coletivamente, há al-islam, a submissão da vontade do homem à Unidade, ou à ideia de Unidade; este segundo elemento se relaciona com a Unidade na medida em que é uma síntese no plano da multiplicidade; finalmente, há al-ihsan, que expande ou aprofunda os dois elementos anteriores até suas consequências finais. Sob a influência de al-ihsan, al-iman torna-se “realização” ou uma certeza que é vivida – o saber torna-se ser –, enquanto al-islam, em vez de se limitar a um certo número de atitudes prescritas, passa a incluir todos os níveis da natureza do homem; a fé e a submissão a priori são pouco mais do que atitudes simbólicas, embora eficazes em seu próprio nível. Em virtude do al-ihsan, o al-iman torna-se gnose, ou participação na Inteligência divina, e o al-islam torna-se extinção no Ser divino. (FSCI, O Caminho)