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Dentro dos “princípios do cálculo infinitesimal” que foram objeto de um trabalho próprio de René Guénon, a noção de Limite ocupa um lugar central porque depende da possibilidade de resolução do cálculo diferencial e do cálculo integral, sendo ambos “os dois ramos em que se divide o cálculo infinitesimal”. Lembremos, para todos os efeitos práticos, que o objeto próprio do cálculo infinitesimal é procurar distinguir o Infinito do finito, ou mais precisamente tentar definir matematicamente o indefinidamente pequeno ou o indefinidamente grande, tendo o termo “infinitesimal”, como aponta Guénon, “a grave falha de derivar visivelmente da palavra “infinito”, o que o torna muito pouco adequado à ideia que realmente exprime…”.
Como tal, uma compreensão clara do que verdadeiramente é o Limite permite, através de um efeito de espelho, compreender qual é a natureza do autêntico Infinito. Esta é a própria forma do desenvolvimento teórico de René Guénon na sua abordagem à questão do Infinito, abordagem que lhe dá a oportunidade de especificar, de forma exigente e muito rigorosa, as características desta grande ideia da metafísica.
O Limite tem, portanto, a particularidade de a sua definição conduzir na verdade a uma noção qualitativa, tornando vã e ilusória qualquer tentativa de alcançar uma variação contínua, ao contrário do que sustentava Leibniz, para alcançar a “passagem ao limite”. O que significa que é absolutamente impossível postular uma “quantidade zero” ou uma “quantidade infinita”, sendo o zero matemático, como diz Guénon com razão, apenas uma negação, o que implica indiscutivelmente a recusa lógica de atribuir uma quantidade a uma quantidade zero: “Não podemos dizer que a ausência de quantidade constitui ainda uma quantidade. sentido desta palavra, escreve Guénon, e certamente teria sido preferível não introduzir esta noção, que, fundamentalmente, está ligada à concepção que Leibniz tinha de continuidade, e que, como tal, inclui inevitavelmente o elemento de contradição que é inerente à ilógica desta própria concepção.” O Limite não pode surgir de uma variação quantitativa que conduza a um valor final de uma série crescente ou decrescente emergindo sobre um termo final, o Limite escapa de fato à apreensão elementar do positivo, razão pela qual, “o Limite não pertence à série de valores sucessivos da variável; está fora desta série, a passagem ao limite implica uma descontinuidade. A noção quantitativa de Limite implica uma noção que obedeceria a critérios de estabilidade e solidez matemática, isto é, de permanência e precisão, enquanto o domínio específico do quantitativo é um domínio que se caracteriza pela sua variação, modificação e impermanência perpétuas. Assim, Guénon pode concluir sobre esta questão: “Enquanto permanecermos no domínio das variáveis, não podemos obter esta fixidez que é a característica do limite”.
(RGPCI, cap. XII, “A noção de limite”, cap. XIII, “Continuidade e passagem ao limite”, cap.
Veja Compossível, Finito, Indefinido, Infinito, Manifestação, Número, Zero Metafísico.