Lúcifer

Guénon

DRG

Lúcifer é, como tal, o primeiro dos espíritos celestiais, o mais belo dos anjos que cercam o trono celestial, somente a sua rejeição a Deus através do orgulho o fará cair e após esta queda, o fará passar de Lúcifer a Satanás, do portador da luz às mais densas trevas.

Teremos, portanto, o cuidado de distinguir na análise o “Luciferanismo” do “Satanismo”, embora, reconhece René Guénon, existam certas ligações entre eles, porque se o “Satanismo” é uma inversão total das relações normais da ordem hierárquica, o “Luciferanismo”, de uma forma muito mais profunda, é uma recusa radical do reconhecimento da autoridade suprema de Deus (daí o famoso “non serviam” na origem da queda do primeiro anjo). Esta primeira ruptura, que quebrou a unidade original, explica porque a permanência de Lúcifer/Satanás se situa no centro da Terra, “isto é, no ponto onde convergem as forças da gravidade por todos os lados”, ponto que é precisamente a antítese do Centro celeste para o qual se dirigem os espíritos purificados, e que a tradição iconográfica universal representa como um Sol irradiante. Notemos também que Lúcifer tem na testa uma esmeralda que, durante a sua queda durante a sua rebelião contra Deus, caiu na terra e foi usada para cortar a taça do Santo Graal. Podemos, portanto, considerar que existe tradicionalmente uma ligação direta entre este “Olho Frontal” de Lúcifer, representado por esta “pedra caída do céu”, e a taça que recolhe o sangue divino, ligação que não é apenas simbólica, mas também e sobretudo de grande significado metafísico.

(SFCS, cap. III, “O Sagrado Coração e a lenda do Santo Graal”, cap. LXI, “A Cadeia dos Mundos”. AEPT, cap. III, “Conhecimento e ação”. RGEC, cap. IX, “Sagrado Coração e a lenda do Santo Graal”. Crise do mundo moderno, cap. VI, “Caos social”.)

Veja Queda, Hades, Graal, Lapsit exillis, Olho.

Schuon

GTUFS

Não admitir o que nos excede e não desejar exceder a si mesmo: esse é, de fato, todo o programa do psicologismo, e é a própria definição de Lúcifer. A atitude oposta ou primordial e normativa é: não pensar senão em referência ao que nos excede e viver apenas para exceder a si mesmo; buscar a grandeza onde ela se encontra, e não no plano do indivíduo e de sua mesquinhez rebelde. Para reencontrar a verdadeira grandeza, o homem deve antes de tudo aceitar pagar a dívida de sua própria mesquinhez, permanecendo pequeno no plano onde não pode deixar de ser pequeno; o sentido da realidade objetiva, por um lado, e do absoluto, por outro, não prescinde de uma certa abnegação, e é essa abnegação que nos permite, de fato, ser plenamente fiéis à nossa vocação humana. (FSLT, A contradição do relativismo)