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Memória ancestral. Memória coletiva. Memória cósmica. Memória latente. A memória (Smriti) é, em sua constituição primária, “apenas um reflexo da percepção e pode ser tomada para designar, por extensão, tudo o que apresenta caráter de conhecimento reflexivo ou discursivo, ou seja, indireto”. Este conhecimento indirecto não está menos sujeito a reminiscências muito distantes que apresentam, sob o efeito de circunstâncias particulares, características por vezes surpreendentes, e isto na medida em que “tudo se conserva”, escreve Guénon, “já que tudo tem, de modo permanente, a possibilidade de reaparecer, mesmo aquilo que parece mais completamente esquecido e aquilo que é mais aparentemente insignificante, como vemos em certos casos mais ou menos anormais; mas para que uma dada memória reapareça, as circunstâncias devem ser adequadas, para que, de fato, haja muitos que nunca retornam ao campo da consciência clara e distinta.
Muitas vezes estes casos de “reminiscências” anormais, que podem ser descritas como memória ancestral, ou mesmo memória cósmica, observadas em certos indivíduos, são produtos de uma memória latente, memória que prova como é possível que a memória de fatos distantes que acreditávamos terem sido completamente apagados persista, mesmo para além da existência actual dos indivíduos em questão. Esta Memória que, por vezes, pode até dizer respeito a comunidades inteiras e surgir no contexto de “comunicações” surpreendentes, obviamente graças a situações particulares excepcionais, “ou manifestar-se apenas ao fim de várias gerações”, tem, na maioria das vezes, uma origem subconsciente evidente.
Sabemos, porém, que se René Guénon não deu crédito às teorias da psicologia moderna, reconheceu perfeitamente a fonte tradicional da descoberta deste domínio do psíquico que geralmente permanece não revelado e que, por isso mesmo, é denominado “subconsciente”. No entanto, sempre insistiu muito fortemente no caráter puramente transitório dos elementos ou conjuntos que povoam esta região da mente, conjuntos mentais perecíveis, “isto é, sujeitos à dissolução, porque, sendo de ordem sensível, são literalmente dependências do estado corporal; além disso, acrescentou, além da consciência temporal, que é uma das que definem este estado, a memória obviamente não teria razão de existir. A memória no indivíduo deve, portanto, ser considerada como um simples fenômeno psíquico contingente ao qual é aconselhável não se apegar demais importância, caso contrário confundiremos um simples mecanismo da mente com o verdadeiro conhecimento, ou pior ainda, assimilá-lo-emos a uma possível perpetuação do ser, uma possibilidade como sabemos que alimenta mais do que “teorias nebulosas que sustentam a realidade da reencarnação.
(O Erro Espírita, cap. VII, A explicação dos fenômenos”, cap. VI, “Reencarnação”, cap.; cap. VIII, “Os limites da experimentação”. O homem e seu futuro segundo o Vêdanta, cap. I, Generalidades sobre o Vêdanta”.)
Veja Imaginação, Psíquico, Reencarnação, Smriti.