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A multiplicidade caracteriza essencialmente o estado do mundo criado, o estado de Manifestação visível que, invariavelmente, tende à diferenciação, à confusão e ao “descentramento”. Se quisermos ver que “a desordem é, como escreve René Guénon, num sentido inerente a qualquer manifestação tomada em si”, compreendemos melhor este estado de Multiplicidade que afecta a totalidade do manifestado, porque “a Manifestação, fora do seu princípio, portanto como multiplicidade não unificada, é apenas uma série indefinida de rupturas de equilíbrio”.
A multiplicidade define claramente o que pertence especificamente à desordem do mundo visível, ao seu desequilíbrio constitutivo. Contudo, esta desordem obedece a uma lei compensatória, “pois se destina a compensar outra desordem”, e isto na medida em que, nunca esqueçamos, “é a soma de todas as perturbações, de todos os desequilíbrios, que constitui a ordem total”. Só considerando cada coisa dentro da primeira Unidade é então possível acceder à verdadeira realidade, porque “a multiplicidade, fora do Princípio único, tem apenas uma existência ilusória”. Esta superação da Multiplicidade se realiza através da percepção da Unidade original, onde tudo é trazido de volta ao Centro onde não resta oposição, onde “os dois pontos de vista complementares da “Unidade na multiplicidade e da multiplicidade na Unidade” (El-wahdatu fîlkuthrati wal-kuthratu fîl-wahdati) estão indivisivelmente unidos, no Ponto central de toda manifestação, que é o “lugar divino” ou o “divino”. estação””. Notemos que metafisicamente o Não-Ser não inclui nem a Multiplicidade nem a unidade, “porque o Não-Ser é o zero metafísico”. Neste nível todas estas noções perdem a sua relevância, já não existe nada que seja forma ou não-forma, este é o domínio do vazio puro, anterior à própria Unidade, e que a doutrina hindu chama de “não-dualidade” (adwaita).
(RGSC, cap. VIII, “Guerra e Paz”, cap.
Veja Adwaita, Adwaita-vâda, Mundo, Não-Ser, Ordem, Ponto, Princípio, Unidade, Zero Metafísico.