Nome

PRDE

Nos detalhes, poderíamos pensar que os esoteristas se dividem em escolas bem definidas e fortemente opostas sobre a teoria da palavra. Existiriam: 1) a escola mística, a do Taoísmo, do Zen, que sustenta que a Realidade escapa às palavras, cascas vazias, ruídos da boca deslizando sobre o Absoluto; 2) a escola intermediária, filosófica, de um Buda ou de um Platão, que pensa que as palavras são às vezes convencionais, outras divinas, que apenas alguns sons têm um simbolismo, que os nomes são redes para ideias que devem ser descartadas após a captura; 3) a escola mágica, a dos Cabalistas, dos Tantristas, que explica o mundo em termos de vibração sonora e se apega a alfabetos sagrados, a fórmulas mágicas.

Na verdade, a mesma doutrina, a mesma organização pode afirmar o papel da palavra na magia e negar o papel da palavra no ensino. O iniciado está pronto a admitir que a palavra é um ruído conveniente, nada mais, mas… para o profano.

Ponto extremamente importante, não há esoterismo que negligencie a palavra. Quase todas as cosmogonias ocultas são descritas em termos linguísticos: fala-se do Verbo criador, do som primordial, da língua primitiva, dos fonemas constitutivos do Ser. Nas iniciações, a transmissão da influência espiritual tem sua eficácia no aspecto verbal e na fonte oral. Praticamente não há esoterista que não acredite no valor simbólico das letras (e dos números), que não pratique encantamentos, que não recorra à adivinhação pelo nome, à etimologia oculta. Muitas doutrinas secretas repousam sobre um livro sagrado ou sobre a comunicação de uma fórmula. Em geral, um esoterismo se expressa por uma língua, uma escrita consideradas divinas. Todo esoterista se deleita em forjar, interpretar, combinar palavras: segundo Diógenes Laércio, Pitágoras criou “cosmos”, “tetraktys”, “filosofia”. A iniciação começa pelo silêncio, prossegue com a atribuição de um nome místico, o hierônimo, e se encerra, segundo os ritos, na menção dos Nomes de Deus, na recitação dos mitos, na fonação de sons místicos. Para realizar sua obra, o alquimista deve primeiro realizar um trabalho: “ler e reler” os tratados de seus predecessores. Poderíamos multiplicar as provas desse interesse do esoterismo pelas palavras.

Todos os esoteristas concordam sobre a necessidade da hermenêutica, da interpretação dos textos (e até do Livro da natureza). Tudo é sopro, seja o que se respira ou o que se pensa, seja o mundo ou o divino.

Sob a forma mais pura, a concepção esotérica da palavra se chama Doutrina do Nome. Essa concepção remonta aos Egípcios e aos Mesopotâmios, embora tenha se desenvolvido paralelamente na África, na Ásia, em toda parte. Segundo a Doutrina do Nome, uma coisa sem nome não tem existência, ser nomeado é vir a ser, todo ser tem um nome, esse nome é sua essência, conhecer seu nome equivale a conhecer sua essência, o nome é um som interior ou exterior, ou uma escrita, agir sobre a vibração sonora ou o sinal gráfico equivale a agir sobre o próprio ser designado. A palavra é chave, desde que se torne nome, portanto sob a condição de pronunciá-la corretamente e de conhecê-la, sob a condição de conter no som e nas letras o poder de um ser ligado a todos os seres por analogias e correspondências. — A Doutrina do Nome tem como simétrica a crítica do Nome. No nível divinatório, o esoterismo dispõe de métodos como a onomancia: dado um nome de coisa, seria possível, segundo alguns autores, induzir sua natureza segundo o número e o valor de suas letras (é a gematria) ou segundo os homófonos e homógrafos (é o rébus). No plano hermenêutico, intervém a combinação das letras, o alegorismo entre outros. No plano iniciático, os Mestres ensinam como conhecer de cor e de coração os textos sagrados, os mitos tradicionais, como pronunciar eficazmente as fórmulas. No plano artístico, a Prática do Nome se torna caligrafia, desenho na areia, eufonia.

Só que um dicionário não se contenta em escolher os nomes, ele propõe sobretudo caracterizá-los. O que oferecem a esse respeito os esoteristas? uma descrição? conhecemos o ridículo daqueles que pensam “Paraíso” ou “Dilúvio” ou “anjo” em termos descritivos! uma definição? não exatamente, pois a definição fixa, delimita, enquanto o esoterismo pretende ultrapassar o limite, alcançar o que está “além da palavra e do pensamento”; um enigma, então? às vezes, frequentemente até. Lendo as “definições” fornecidas pelos esoteristas, ficamos surpresos. Isso não corresponde ao que se espera hoje de um dicionário. Eis alguns casos: “Deus é uma esfera infinita cujo centro está em toda parte, a circunferência em lugar nenhum” (Liber XXIV philosophorum, II); “a Alquimia é a ciência que ensina a preparar uma certa medicina ou elixir, o qual, sendo projetado sobre os metais imperfeitos, lhes comunica a perfeição no momento mesmo da obtenção” (Roger Bacon, Espelho de alquimia); “Alguns [os Órficos] dizem do corpo [sôma] que é o ‘túmulo’, sèma, da alma, visto que, na vida presente, ele é sua sepultura” (Platão, Crátilo, 400c); “Dhû’l-Nûn o Egípcio disse: ‘A gnose é na realidade a comunicação providencial por Deus da luz espiritual no mais profundo de nosso coração’” (Hujwîrî, Kashf al-Mahjûb, trad. ingl. p. 382); “Sem nada, sem apreensão, tal é a ilha onde não há mais retorno aqui abaixo. Eu a chamo Extinção [nirvana], esse esgotamento completo da velhice e da morte” (Buda, Dhammapada, 25); “Olhando-o, não o vemos, / chamamo-lo de invisível. / Ouvindo-o, não o escutamos, / chamamo-lo de inaudível. / Tocando-o, não o sentimos, / chamamo-lo de intangível” (Tao-te king, 14). A “definição” esotérica tem propriedades bem claras. Ela é operatória, como as definições científicas: contém o método que permite controlar a experiência, ver a ideia. Ela é anagógica, como as definições religiosas, ou seja, tende a orientar o pensamento para o sutil, o espiritual. Sobretudo, ela é correspondente, pois indica as “simpatias” entre termos superficialmente sem relação. Em suma, ela liga teoria e experiência, visível e oculto, um ser aos seres. Ela é símbolo, no sentido forte do termo. A definição esotérica é uma senha, acesso no próprio nome à sua realidade, seja a do mundo, seja a do homem, pouco importa aqui. Ela é participação, graças ao som e ao sentido, a um estado do ser, a um nível de consciência.