GTUFS
A lembrança de Deus é, ao mesmo tempo, um esquecimento de si mesmo; inversamente, o ego é uma espécie de cristalização do esquecimento de Deus. O cérebro é, por assim dizer, o órgão desse esquecimento; é como uma esponja cheia de imagens deste mundo de dispersão e de pesadelo, cheia também das tendências do ego para a dispersão e o endurecimento. Quanto ao coração, ele é a lembrança latente de Deus, escondida no fundo do nosso “eu”; a oração é como se o coração, subindo à superfície, viesse tomar o lugar do cérebro, que então dorme com um sono sagrado; esse sono une e acalma, e seu traço mais elementar na alma é a paz. “Eu durmo, mas meu coração vigia.” (FSCI, O Caminho)
Oração (objetivo individual): O objetivo da oração individual não é apenas obter favores particulares, mas também a purificação da alma: ela desata nós psicológicos ou, em outras palavras, dissolve coagulações subconscientes e drena muitos venenos secretos; ela externaliza diante de Deus as dificuldades, fracassos e tensões da alma, o que pressupõe que a alma seja humilde e reta; essa externalização – realizada diante do Absoluto – tem a virtude de restabelecer o equilíbrio e restaurar a paz, em uma palavra, de nos abrir à graça. (FSRP, 52)
Oração (quintessencial): O importante a compreender aqui é que a atualização da consciência do Absoluto, ou seja, a “lembrança de Deus” ou “oração”, na medida em que provoca um confronto fundamental entre a criatura e o Criador, antecipa todas as estações nos dois eixos. É já uma morte e um encontro com Deus e nos coloca já na Eternidade; é já algo do Paraíso e até, na sua quintessência misteriosa e “incriada”, algo de Deus. A oração quintessencial provoca uma fuga do mundo e da vida e, com isso, confere uma seiva nova e Divina ao véu das aparências e à corrente das formas, e um novo sentido à nossa presença no meio do jogo dos fenômenos.
O que não está aqui não está em lugar algum, e o que não é agora nunca será. Assim como este momento em que sou livre para escolher Deus, assim serão a morte, o Juízo e a Eternidade. Da mesma forma, neste centro, neste ponto divino que sou livre para escolher diante deste mundo ilimitado e múltiplo, já estou na Realidade invisível. (FSLT, O Homem e a Certeza)