GTUFS
Por piedade deve-se entender o apego sincero a Deus, o sentido da vida após a morte, a sinceridade absoluta e, portanto, uma característica encontrada de maneira bastante geral nos santos e, a fortiori, nos mensageiros do Céu; mencionamo-la porque na vida do Profeta ela aparece com uma função particularmente saliente e porque prefigurar, em certo sentido, o clima espiritual do Islã. No plano da piedade, deve-se chamar a atenção para o amor à pobreza, ao jejum e às vigílias…
Deve-se acrescentar que por piedade devemos entender o estado de servidão espiritual (‘ubudiyah) no sentido mais elevado do termo, compreendendo a “pobreza” perfeita (faqr, de onde vem a palavra faqir) e a “extinção” (fana’) diante de Deus, e isso não é alheio ao epíteto “analfabeto” (ummi) que é aplicado ao Profeta. A piedade é o que nos liga a Deus; no Islã, isso é, antes de tudo, uma compreensão, tão profunda quanto possível, da evidente Unidade Divina — pois aquele que é “responsável” deve compreender essa evidência, e aqui não há uma demarcação nítida entre crer e saber — e, em seguida, é uma realização da Unidade além de nossa compreensão provisória e unilateral, que é em si mesma ignorância quando considerada à luz do conhecimento pleno: não há santo (wali, “representante”, portanto “participante”) que não seja um “conhecedor através de Deus” (‘arif bi-Llah). Isso explica por que no Islã a piedade, e a fortiori a santidade que é seu florescimento, tem um ar de serenidade; é uma piedade cuja essência se abre para a contemplação e a gnose. (FSCI, O Profeta)