Simbolismo

Schuon

GTUFS

O simbolismo não teria sentido se não fosse um modo contingente, mas sempre consciente, de percepção da Unidade; pois “ver Deus em toda parte” é perceber acima de tudo a UnidadeAtma, o Si mesmo – nos fenômenos. [FSSG, Ver Deus em Toda Parte]

Um simbolismo é abstrato na medida em que significa uma realidade principal; é concreto na medida em que comunica a natureza dessa realidade, ou seja, a torna presente à nossa experiência. [FSDH, A Mensagem do Corpo Humano]

Ao perceber um sinal-prova do Princípio divino, a mentalidade contemplativa tem duas reações espontâneas, a saber, a essencialização e a interiorização, sendo a primeira objetiva e a segunda subjetiva: através da primeira, o homem vê no sinal ou na qualidade aquilo que é essencial – a intenção divina, se assim se quiser – enquanto que, através da segunda, ele encontra o sinal ou a qualidade na sua própria alma; por um lado, “para os puros, todas as coisas são puras”; por outro, “o reino de Deus está dentro de vós”. A primeira reação se refere à transcendência e a segunda à imanência, embora a transcendência também se relacione com o que carregamos dentro de nós mesmos e embora a imanência também exista fora de nós mesmos.

Assim, vivemos em um tecido de teofanias do qual fazemos parte; existir é ser um símbolo; sabedoria é perceber o simbolismo das coisas. E talvez devêssemos recordar aqui a distinção entre um simbolismo direto, concreto e evidente, e outro que, embora tradicional, é indireto e mais ou menos arbitrário em relação à adequação formal, que precisamente não tem em vista. O simbolismo direto “manifesta” a realidade simbolizada, enquanto o simbolismo indireto apenas “indica” um aspecto fragmentário, contingente ou acidental da imagem escolhida. De outro ponto de vista, diríamos que a adoração dos símbolos deve obedecer a regras sacramentais: adorar o sol em lugar de Deus é uma coisa; estar consciente de sua emanação espiritual e saber como impregnar-se dela ritualmente é outra. [FSRCH, Traços do Ser, Provas de Deus]

Parry

TTW

A metafísica apresenta como primeiro princípio a unicidade, unidade ou não-dualidade do Ser, e este princípio tem como corolário direto a relatividade de todos os estados de existência à parte do Puro Ser. Relatividade significa interdependência, e isso implica uma sequência causal que liga a indefinitude dos estados criados. O simbolismo é a linguagem que torna inteligível, frequentemente com formalidade e precisão geométricas, essa sequência causal. Grande parte da exposição de Coomaraswamy e Guénon é, na verdade, um desvelar de símbolos tradicionais, cujo conteúdo, universalidade e significação metafísica foram em grande parte obscurecidos ou perdidos no Ocidente desde o Renascimento. No entanto, ‘é na medida em que ele “conhece as coisas imortais pelo mortal” que o homem como pessoa verdadeira se distingue do animal humano, que conhece apenas as coisas como são em si mesmas e é guiado apenas por esse conhecimento estimativo’ (Coomaraswamy: ‘The Christian and Oriental, or True, Philosophy of Art’; em Why Exhibit Works of Art?, p. 50).

‘Tudo o que existe, qualquer que seja sua modalidade, participa necessariamente de princípios universais, nem nada existe exceto pela participação nesses princípios, que são as essências eternas e imutáveis contidas na atualidade permanente do Intelecto Divino. Consequentemente, pode-se dizer que todas as coisas, por mais contingentes que sejam em si mesmas, traduzem ou representam esses princípios à sua maneira e de acordo com sua ordem de existência, pois, caso contrário, seriam pura e simplesmente nada. Assim, de uma ordem para outra, todas as coisas estão ligadas em correspondência, contribuindo para a harmonia total e universal, sendo a própria harmonia… nada mais que o reflexo da unidade principial na multiplicidade do mundo manifestado; e é essa correspondência que forma o fundamento real do simbolismo’ (Guénon: ASPT, p. 22).

‘O simbolismo iniciático, por sua própria natureza, desafia a redução a fórmulas mais ou menos estreitamente sistemáticas, como aquelas em que a filosofia profana se deleita. É função dos símbolos ser o suporte para concepções onde as possibilidades de extensão são verdadeiramente ilimitadas, enquanto toda expressão é ela mesma apenas um símbolo; portanto, deve-se sempre levar em conta aquela parte que é inexprimível, e que no reino da metafísica pura é precisamente aquilo que mais importa’ (Guénon: RGED, pp. 69–70).