(DRG)
Num texto sobre o simbolismo da tecelagem, Guénon destacou que a palavra sânscrita sûtra se traduz como “Fio”, o que lhe pareceu um excelente indício do verdadeiro significado que o Fio poderia carregar na arte de fabricar tecidos, através da tecelagem. A tradição também distingue claramente a trama do tecido, da sua “urdidura”. Esta distinção especifica Guénon, correspondendo, “seguindo a terminologia hindu, à do Shruti que é fruto da inspiração direta, do Smriti, que é o produto da reflexão exercida sobre os dados do Shruti”. Para além dos numerosos significados que o fio pode ter na sua relação com a tecelagem, tem no entanto um significado particular muito original que lhe pertence, o sentido de elo condutor, de elemento de ligadura, de transmissão e coesão. O Fio é a imagem do contato com a Fonte, da relação com o Princípio, da memória das origens.
No Bhagavad-Gîtâ (VII, 7) podemos ler esta frase na boca de Krishna: “Em Mim todas as coisas estão enfiadas como um colar de pérolas em um fio. » O Fio (sûtra) como Atmâ, “penetra e conecta todos os mundos, ao mesmo tempo que é também a respiração, escreve René Guénon, que os sustenta e os faz subsistir, e sem a qual eles não poderiam ter qualquer realidade ou existir de qualquer maneira”. Cada mundo é como uma esfera atravessada por um Fio, o que explica que, ligando-se entre si, os mundos são portanto sustentados por este Fio que os coloca na continuidade do Eixo do Mundo, o eixo de um mundo, especifica Guénon, “é estritamente falando apenas uma porção do próprio eixo de toda a Manifestação universal, e é através dele que se estabelece a continuidade efetiva de todos os estados que estão incluídos nesta manifestação”. A correspondência entre o Fio ou o Eixo do Mundo e os vários os estados do ser, longe de serem um simples dado analógico, devem ser vistos como uma importante verdade metafísica, da qual o rosário, deixando visíveis apenas os grãos e mantendo oculto o Fio (sûtrâtmâ) que os liga, um Fio que permanece imanifestado, oferece uma bela imagem simbólica.
(RGSC, ch. XIV, « Le symbolisme du tissage ». SFCS, ch. LV, « Le trou de l’aiguille », ch. LXI, « La Chaîne des mondes ».)
Veja Agulha, Rosário, Labirinto, Nó, Sûtrâtmâ.
1. O Simbolismo do Fio (Sutra) e do Tecido (Tantra):
- Sutra como “fio”:
- Em sânscrito, “sutra” significa “fio”, semelhante ao latim “sutura” (costura).
- Um livro de sutras é como um tecido feito de fios.
- A palavra árabe “Surat” (capítulos do Corão) tem elementos semelhantes.
- Tantra como “fio” e “tecido”:
- “Tantra” também significa “fio” e “tecido”, especialmente a “urdidura” de um tecido (a raiz “tan” indica extensão).
- A Cruz como Interseção:
- Urdidura e Trama:
- A urdidura representa princípios que ligam mundos e estados.
- A trama representa eventos em cada mundo.
- A manifestação de um ser é determinada pelo encontro de um fio da urdidura com um fio da trama.
- cada fio da urdidura é um ser em sua natureza essencial, que liga todos os seus estados.
- O encontro dos fios da urdidura e trama determina as relações do ser com o meio cósmico.
2. O Sutratma e a Conexão Cósmica:
- O “sétimo raio” e o “coração”:
- O “sétimo raio” conecta o “coração” de cada ser ao sol.
- É o “raio solar” por excelência, o sushumna.
- é o sutratma (“fio do Atma”) que une todos os estados do ser.
- O “olho da agulha”:
- A “cadeia dos mundos”:
- “Todas as coisas estão enfileiradas em Mim como pérolas em um fio” (Bhagavad-Gita).
- O sutratma penetra e une todos os mundos.
- Cada mundo é uma esfera atravessada pelo fio.
- A “cadeia dos mundos” é geralmente representada como circular.
- O fio é mais importante que as contas, pois ele representa o não manifestado.
- Aksha designa tanto o fio como as contas do rosário.
- O simbolismo da ponte:
- Cadeias de união e labirintos:
- Cadeias, cordas e fios representam o sutratma.
- A linha contínua em labirintos é uma imagem do sutratma.
- Os desenhos de Durero e Leonardo se assemelham a “arabescos”.
- Ligaçoes e nós:
- O fio representa o sutratma, que liga todos os estados de existência.
- Nós no fio representam pontos de condensação e coesão.
- A solução de um nó implica a morte de um estado.
- A ascensão por uma corda vertical simboliza a conexão com o princípio.
- Títeres e o “Si-mesmo”:
- Títeres movidos por um fio simbolizam a conexão com o “Si-mesmo”.
- Sem o sutratma, a existência seria nada.
- Purusha e o tecido do mundo:
Esses tópicos abrangem as principais ideias sobre o simbolismo do fio, do tecido e do sutratma, destacando sua importância na compreensão da conexão entre os diferentes estados de existência e o princípio supremo.