Tábua Esmeraldina

ZollaMO1

Em um tratado alquímico atribuído a Alberto Magno, é referida a lenda de Alexandre, o Macedônio, que descobre não se sabe onde o sepulcro do filósofo Hermes, repleto de tesouros dourados e entre eles esta tábua, já no século VIII mencionada por escritores árabes. Pode-se remontá-la à época alexandrina.

É verdade sem mentira, certo e verdadeiríssimo [[Titus Burckhardt interpreta esta repetição como uma distinção entre verdade objetiva e sua experiência subjetiva (L’alchimia, Torino, 1962, p. 169).]] que o inferior é como o superior e o superior é como o inferior [[Athanasius Kircher interpreta: «Indica-se apenas que todas as coisas estão em cada uma. Pois Proclo, no livro sobre sacrifícios e magia, afirma que no céu as coisas terrenas estão segundo sua causa e seu modo celestes, enquanto também na terra estão as coisas celestes, mas ao modo das terrenas» (Oedipus Aegyptiacus, par. IL 2, p. 428). No prefácio, ilustrou-se o tema da inversão entre os dois mundos a propósito da primeira fase, eucarística, da iniciação.]] para realizar os milagres de uma coisa única [[Diz Hildegarda: «Onde alma e corpo concordam em retidão, obtêm os prêmios supremos em uma única alegria» (Scivias, V, IV, II). Somente em referência a uma coisa ocorre a inversão dos dois mundos especulares. Entende-se: de uma coisa que tenha encontrado sua unidade e unicidade, sua conciliação interior ou estado íntegro e adamítico.]] e como todas as coisas tiveram início a partir de um por mediação [[Athanasius Kircher interpreta como afirmação conforme às do Parmênides platônico ou do Asclepio hermético «Existe uma força máxima do espírito do Mundo latente nas medulas íntimas de cada coisa», que é a força unitiva. Burckhardt recorda que certos textos dão, em vez de mediação, meditação e que «o termo árabe tadbir adotado neste ponto por algumas versões da tábua esmeraldina tem o duplo significado de consideração e de reflexão». O um que media o um é evidentemente o intelecto que contempla o um originário. A coisa uma (e única) se reconecta ao Um por obra do intelecto unificante. Certas glosas de Marsilio Ficino ao hino ao sol de Juliano, o Apóstata, ilustram bastante claramente esta mediação como relação entre os três sóis: o visível (à cuja natureza participam todas as coisas espirituais, ou seja, unificadas), o intelectual e o inteligível. «O Bem, como primeiro sol entre os inteligíveis, gerou o segundo sol, ou seja, o intelectual entre os intelectuais quase como filho ou Verbo seu, cuja imagem é o terceiro sol, o visível; e a luz visível é imagem da invisível, que é Verdade… O sol (a quem é dedicado o hino) é o intelecto formal dos intelectuais, médio proporcional entre mundo inteligível e sensível, e é um intelecto procedente de um deus inteligível, chefe dos inteligíveis… O sol é Apolo Musageta, que gera no mundo Esculápio» (transcrição de E. Garin, in Studi sul platonismo medievale, Firenze, p. 198 e seg.).]] do um, assim todas as coisas nasceram por adaptação [[Certos textos trazem «por conjunção».]] deste um.

Seu pai é o Sol, mãe a Lua, o vento o levou no ventre, sua nutriz é a terra, este é o pai de todo talismã ou consumação do mundo inteiro [[Burckhardt interpreta: «O sol como pai da pedra, é o espírito ou intelecto (noûs), a lua é a alma (psyche)… o vento que leva o germe espiritual em seu ventre é o sopro vital e, mais geralmente, a matéria sutil do reino intermediário que se estende entre o céu e a terra, ou seja, entre o mundo supraformal e puramente espiritual e o corpóreo. O sopro vital é também o mercúrio que contém o germe do ouro em estado líquido… a terra é o corpo como realidade interior». Kircher: «O instrumento principal (da força unitiva situada nas medulas das coisas) é formado pelo sol, pela lua e por um certo vapor úmido». O vento que leva no ventre seria justamente este vapor úmido. Se o espírito se consolida, ou seja, se o mundo inteligível informa os próprios membros do homem, a obra está completa, por isso segue a frase sobre a conversão em terra do um.]]. Sua força é perfeita se convertida em terra.

Separarás a terra do fogo, o sutil do espesso, suavemente, com grande engenho [[Com ministério sábio se faz ascender o fogo ao céu, a paixão ou eros se dirige às ideias inteligíveis, abstrai-se a alma das coisas terrenas.]]; ascende da terra ao céu, depois desce novamente à terra e recebe a força dos superiores e dos inferiores [[A quinta essência, ou ouro potável ou elixir da vida, é essa mesma força que é o Sol para o espírito do Mundo, assim como o vinho é o sol dos úmidos, o ouro é o sol dos minerais, interpreta Kircher. E, obviamente, é o intelecto como sol no homem, ou seja, a força digestiva, sutilizante, que envia para o alto o fogo da paixão, o qual cairá novamente por efeito da borra que o contamina, e depois subirá de novo e assim por diante, purificando-se cada vez melhor segundo a imagem da cozimento em alambique. Ou seja: na medida em que o espírito passionais ascende ao céu, desce em corpo, em terra a paixão espiritual.]]. Assim terás a glória de todo o mundo, por isso toda obscuridade foge de ti. Esta é a força de toda força, que vence toda coisa sutil e penetra toda coisa sólida [[Burckhardt cita um trecho do árabe Bjabir Ibn Hayyan: «O corpo torna-se espírito e adquire do espírito a fineza, a leveza, a dilatabilidade, a cor, a capacidade penetrativa e todas as demais qualidades; o espírito, por sua vez, torna-se corpo, adquirindo a resistência ao fogo, a imobilidade e a duração. Dos dois elementos nasce uma substância leve que não possui nem a solidez dos corpos nem a fineza dos espíritos e cuja natureza é exatamente intermediária entre os dois extremos». Ou seja: o homem transformado graças ao magistério torna-se um mediador constante.]]. Assim foi criado o mundo [[Os textos árabes trazem: «Assim foi criado o microcosmo à imagem do macrocosmo». A cosmogonia é sempre um reflexo do itinerário místico.]]. Daqui adaptações maravilhosas das quais este é o modo [[No texto árabe, informa Burckhardt, lê-se: «Esta via é percorrida pelos sábios». Pode-se também entender adaptações como: traduções em muitos planos: em várias operações reencontra-se o mesmo processo, na fabricação do ouro como da aguardente, como na teoria da luz.]]. Assim sou chamado Hermes Trismegisto, que possui as três partes da filosofia de todo o mundo [[A carnalidade, a psiquicidade e a espiritualidade; céu, ar, terra; inteligível, intelectual, sensível.]]. O que eu disse está completo no que concerne à operação do Sol.