GTUFS
A Virgem é o protótipo da alma perfeita; ela encarna a alma universal em sua pureza, sua receptividade para com Deus, sua fecundidade e sua beleza, atributos que estão na origem de todas as virtudes angelicais e humanas, e mesmo de todas as qualidades positivas possíveis, como, por exemplo, a pureza da neve ou a incorruptibilidade e a luminosidade do cristal. [FSCIVOE, As Virtudes Espirituais Segundo São Francisco de Assis]
A Virgem Santíssima é tanto a Substância pura universal (Prakriti), matriz do Espírito divino manifestado e de todas as criaturas no que diz respeito ao seu teomorfismo, como a substância primordial do homem, sua pureza original, seu coração, na medida em que é o suporte da Palavra que liberta. [FSCI, O Profeta]
A vida religiosa é um sistema complexo que inclui todo o homem e, portanto, envolve a alma, não deixando nada de fora; esse sistema nos é apresentado como uma condição indispensável para a salvação, fora do qual não há nada que possa nos salvar, embora outros sistemas, igualmente exigentes e exclusivos, coexistam ao lado dele. Sendo assim, deve haver necessariamente um nível em que esses sistemas, como tais, perdem grande parte de sua importância e onde, a título de compensação, se afirmam os elementos essenciais que eles têm em comum, elementos que, quer queiramos quer não, conferem aos sistemas todo o seu valor; e não hesitamos em definir isso como o domínio de Maria, a Virgem Mãe que, segundo um simbolismo comum ao cristianismo e ao islamismo, amamentou seus filhos – os profetas e os sábios – desde o início e fora do tempo. Mãe de todos os Profetas e matriz de todas as formas sagradas, ela tem seu lugar de honra no Islã, mesmo pertencendo a priori ao Cristianismo;* por essa razão, ela representa uma espécie de elo entre essas duas religiões, que têm em comum o propósito de universalizar o monoteísmo de Israel. A Virgem Maria não é apenas a personificação de um modo particular de santidade como tal: ela não é uma cor particular ou um perfume particular, ela é luz incolor e ar puro. Em sua essência, ela se identifica com aquela Infinitude misericordiosa que, precedendo todas as formas, transborda sobre todas elas, abraça todas elas e reintegra todas elas…
A Virgem Mãe personifica a Sabedoria supraformal; é do seu leite que todos os Profetas beberam. Nesse aspecto, ela é maior do que o Menino, que aqui representa a sabedoria formal, daí a revelação particular. Ao lado do Jesus adulto, ao contrário, Maria não é a essência informe e primordial, mas o seu prolongamento feminino, a shakti: ela não é, portanto, o Logos sob o seu aspecto feminino e materno, mas o complemento virginal e passivo do Logos masculino e ativo, o seu espelho, feito de pureza e misericórdia.
(Maria é Virgem, Mãe, Esposa: Beleza, Bondade, Amor; a soma deles é a Bem-aventurança. Maria é Virgem em relação a José, o Homem; Mãe em relação a Jesus, o Deus-Homem; Esposa em relação ao Espírito Santo, Deus. José personifica a humanidade; Maria encarna o Espírito considerado em seu aspecto feminino ou o complemento feminino do Espírito.)
(Também se poderia dizer que o Menino é o Intelecto formal e determinante que bebe o leite do Intelecto informe e indeterminado. É assim que um cristal absorve a luz indiferenciada que é chamado a polarizar através de sua própria forma; uma forma perfeita porque é um reflexo divino, mas uma forma, não obstante. Por um lado, Cristo é o centro rigoroso e a Virgem o raio suave que o prolonga; por outro, a Mãe é o raio que se infunde no círculo representado pela Criança; o infinito se infunde na perfeição.) [FSCIVOE, Alternâncias no Monoteísmo Semítico]