Tempo e clarividência (Evola)

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O tempo é um modo substancial das coisas, uma lei intrínseca e absoluta do ser, da qual não se pode abstrair? Ou é apenas um modo acidental, segundo o qual o conhecimento humano é obrigado a representar as coisas e os eventos, que, no entanto, em si mesmos, devem ser pensados independentemente da lei linear e sucessiva do tempo?

Este problema não será aqui abordado do ponto de vista filosófico, nem da física contemporânea, mas sim como decorre diretamente da experiência diante de certos fenômenos pouco observados e bastante esporádicos, mas não menos reais por isso. Referimo-nos aos fenômenos de previsão.

Estes podem ser divididos em três categorias:

1) Há, antes de tudo, sensações mais ou menos obscuras de eventos iminentes, que nada deixaria supor. Essas sensações têm frequentemente um caráter premonitório. Por exemplo: um amigo nosso, tendo decidido ir a uma cidade do norte da Itália em certa data, comprou sua passagem, quando é tomado por um impulso irresistível e inexplicável: o de partir um dia antes do previsto. Ele obedece a esse impulso e, durante a viagem, sente uma angústia intensa que só desaparece depois que ultrapassa certa cidade, perto da qual, no dia seguinte, o trem que ele deveria ter pego colidiu com outro, resultando em várias mortes e feridos.

2) Em segundo lugar, há as predições. Indivíduos chamados “lúcidos” anunciam eventos improváveis ou acidentais, que depois realmente acontecem. Por exemplo: indicação prévia, absolutamente exata, de quem, entre a multidão que lotaria uma sala, acabaria sentado em determinado lugar. O cálculo estatístico, rigorosamente aplicado a predições desse tipo, intencionalmente provocadas, mostrou-se incapaz de explicá-las, constatando a existência de um fator irredutível e irrefutável de improbabilidade.

3) Em terceiro lugar, existe uma verdadeira clarividência. Trata-se do mesmo evento visto duas vezes, de forma absolutamente idêntica, no presente e no futuro. Por exemplo: um de nós, oficial na frente de batalha (durante a Primeira Guerra Mundial), sonhou que estava à mesa, uma noite, com seu irmão, então em guarnição em Vicenza. De repente, a luz se apaga e se acende três vezes — um sinal combinado, mas desconhecido do sonhador, para anunciar a chegada de aviões inimigos. Corrida para o abrigo ao ar livre. Atravessando uma praça, também desconhecida do sonhador. Alguém esbarra no irmão, que cai. No escuro, a pessoa em questão o ajuda a se levantar e retoma a corrida para o abrigo, enquanto as primeiras explosões ressoam. Nosso amigo, profundamente impressionado pelo sonho, contou-o aos seus camaradas e depois escreveu a um conhecido em Vicenza para saber se algo havia acontecido.

Nada havia acontecido, mas alguns meses depois, quando ele estava em Vicenza para rever seu irmão, com absoluta coincidência de detalhes, com a mesma identidade como se fossem duas projeções sucessivas do mesmo filme, tudo o que ele já havia sonhado se desenrolou.

Antes de compreender o que esses fenômenos podem significar quanto à natureza do tempo, convém distinguir três concepções diferentes dele. Podemos conceber o tempo:

a) De forma criadora, como um vir-a-ser livre, um ímpeto que produz fatos que não existiam e que não obedecem a nenhuma verdadeira lei de necessidade;

b) Como uma produção de eventos sucessivos, que podem, no entanto, ser completamente explicados com base em condições causais, necessárias e suficientes;

c) Como o simples desenrolar, irreversível e linear, de uma série de fatos contidos numa experiência.

Que os fenômenos relatados acima sejam incompatíveis com a primeira concepção do tempo é evidente: uma previsão implica uma predeterminação, e a predeterminação exclui a contingência, própria de uma espontaneidade livre e criadora. Que sejam igualmente incompatíveis com o segundo conceito depende da possibilidade de reduzir, ou não, a previsão a uma visão das causas, nas quais se supõe estar em germe o que necessariamente deve acontecer. É certo que nas previsões as causas não são conhecidas: o conhecimento não é dedutivo nem intelectual [como ocorre, por exemplo, nas previsões da ciência]; é, ao contrário, dado sob a forma de uma percepção imediata, direta, espontânea [e, no terceiro grupo dos fenômenos considerados, de uma visão do fato futuro]. No entanto, poder-se-ia [superar essa dificuldade] conceber que o evento está nas causas, assim como a ideia de um edifício, que certamente será construído, está no pensamento de seu arquiteto: a previsão se explicaria então como uma espécie de comunicação visualizada, ou mesmo de “sensação” dessa ideia, [ocorrida por contato no domínio hipersensível — mais ou menos como, em pequena escala, no plano humano, por telepatia, pode-se ler o pensamento alheio e saber o que ele pretende fazer.

É preciso, no entanto, perceber que, considerando assim as coisas, pode-se, certamente, continuar a atribuir ao tempo um certo caráter de realidade, mas apenas sob a condição de não adotar, desde o início, uma posição absolutamente determinista, de não identificar o possível com o real. Pois] uma ideia só se distingue da realidade por ser uma “possibilidade”, ou seja, algo que pode [se realizar, mas] também não se realizar. Se isso não ocorresse, entre a visão da ideia [(trata-se da ideia-visão, percebida nas causas)] e a do fato correspondente, não haveria diferença: tudo se passaria como se o fato futuro, ele mesmo, fosse visto, ou seja, estivesse presente. Com isso, a terceira concepção do tempo também se reduz a nada, como sequência linear irreversível de fatos que só apareceriam sob a condição de percorrer sucessivamente toda a série de intermediários.

Conclusão: se uma clarividência absoluta e incontestavelmente comprovada em cada caso fosse possível, dela decorreria necessariamente a irrealidade e a relatividade do tempo, seu modo totalmente humano e acidental de perceber as coisas. O futuro, enquanto futuro, não existiria: estaria, de certo modo, já presente, e o intervalo de “vir-a-ser”, que o separa do que chamamos presente, seria uma pura ilusão, um puro miragem humano.

O homem é um ser cognoscente e, portanto, mesmo que as coisas realmente se apresentassem assim, isso não deveria desconcertá-lo, mas, ao contrário, alegrá-lo, porque ele poderia então superar a lei que encerra seu olhar na estreita prisão do presente e sua possibilidade de pairar no passado e no futuro, participando quase, nisso, da onisciência e da extratemporalidade atribuídas a um olho divino. [Trata-se da fascinação exercida pelo dom, ou poder, do conhecimento profético, que designa o que, no plano iniciático, corresponde à faculdade extranormal esporádica atuante nos fenômenos comuns de clarividência].