(DRG)
Se os Céus podem ser identificados com os “estados superiores de ser”, os Infernos referem-se aos estados inferiores. No entanto, observa René Guénon, a ascensão aos estados superiores do ser, que constitui a característica de qualquer abordagem iniciática, deve primeiro passar por uma “descida” ao Inferno, descida esta que representa uma “recapitulação dos estados que precedem logicamente o estado humano, que determinaram as suas condições particulares, e que também devem participar na “transformação” que será realizada”. Esta descida também autoriza a manifestação de certas possibilidades inferiores que o ser retém dentro de si em estado latente, e que devem imperativamente passar por uma purificação antes de atingir os estados superiores. Esta purificação, que também pode ser comparada a uma “exploração” das regiões mais sombrias do estado humano, explica porque o Submundo é mais frequentemente representado simbolicamente como estando localizado dentro da Terra. Por outro lado, os Infernos de que falamos, escreve Guénon, no caso de ausência de ascensão, são os Infernos que, segundo os antigos mistérios, representavam o “atoleiro” que se encontrava no caminho iniciático e no qual caía o leigo que reivindicava conhecimento e desvendamento sem possuir as qualificações exigidas. Estes “pântanos” são obviamente encontrados tanto na ordem macrocósmica como na ordem microcósmica, e são equivalentes à “escuridão externa”. Se na descida ao Inferno, explica Guénon, o ser sofre uma purificação profunda, podendo então aproximar-se de estados superiores, na “queda no atoleiro”, os poderes inferiores subjugam o ser e negam-lhe qualquer perspectiva de elevação. Finalmente, se falamos do Submundo no plural, é porque “o Inferno tem nove círculos, um reflexo invertido dos nove céus”, mostrando assim a universalidade das leis da correspondência espiritual entre o que está acima e o que está abaixo.
(RGED, cap. IV, “Dante e o Rosacrucianismo”, cap. VI, “Os três mundos”. RQST, cap. XXXIV, “Os delitos da psicanálise”.)
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