Graça

Guénon usa o exemplo da transmissão de uma “influência espiritual” ou comunicação com os estados superiores do ser durante a iniciação, para mostrar a diferença com o que é chamado de “recepção da Graça” no nível estritamente religioso. A graça, que pode ligar o ser aos estados superiores, não pode, por outro lado, fazê-lo penetrar totalmente nesses estados. Guénon usa um argumento simples, mas muito esclarecedor, para sustentar sua argumentação. Se, segundo ele, é possível que alguém entre em um relacionamento com os anjos “sem deixar de estar confinado em sua própria condição de indivíduo humano, ele não estará mais avançado do ponto de vista iniciático”. E é aí que reside o problema para Guénon, pois é essencial, no nível iniciático, não se comunicar com outros seres que estão em um estado angélico, mas alcançar e realizar esse estado supraindividual por si mesmo, o que é, concordamos, muito diferente. Isso dá a Guénon a oportunidade para um esclarecimento: “Toda realização iniciática”, escreve ele, “é, portanto, essencial e puramente ‘interior’, em contraste com aquele ‘sair de si mesmo’ que constitui o êxtase no sentido próprio e etimológico da palavra”. Além disso, embora a Graça obviamente envolva um elemento verdadeiramente não humano em termos de influência espiritual, esse elemento é sempre uma “descida” em um nível estritamente individual. Por essa razão, no espírito de Guénon, deve-se sempre fazer uma clara distinção entre os pontos de vista iniciático e místico, de modo a não interpretar mal as formas precisas que especificam suas diferenças e caracterizam suas metas e objetivos.

(RGAI, cap. III, “Vários erros relativos à iniciação”, cap. XXIV, “Oração e encantamento”.)

Veja Influência Espiritual.