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René Guénon observa que “qualquer ideia de Hierarquia, mesmo fora do domínio iniciático, está particularmente obscurecida no nosso tempo”, e que esta ideia é “uma daquelas contra as quais as negações do espírito moderno são particularmente implacáveis, o que, para dizer a verdade, está perfeitamente em conformidade com o caráter essencialmente antitradicional deste último, caráter do qual, basicamente, o “igualitarismo” em todas as suas formas representa apenas um dos aspectos”. Isto talvez não seja surpreendente num momento em que o desencadeamento das paixões, paixões implementadas pelo espírito de anti-tradição, continua a destruir, um após o outro, todos os veneráveis vestígios da ordem ancestral, e especialmente todas as estruturas em que se baseou a organização hierárquica das sociedades originais. Esta negação devastadora, não contente em espalhar os seus delitos no mundo secular, contaminou também o domínio iniciático, e não é raro ver defensores da rejeição das formas hierárquicas exprimirem-se em nome das mesmas organizações cujo dever normalmente seria manter, tão rigorosamente quanto possível, a coerência doutrinária sobre a cegueira do século.
Como lembra Guénon, “qualquer organização iniciática, em si, é essencialmente hierárquica, tanto que aí poderíamos ver uma das suas características fundamentais, embora, claro, acrescenta, esse caráter não lhe seja exclusivamente específico, porque também existe nas organizações tradicionais “externas”, isto é, de caráter exotérico. »
No entanto, a natureza da Hierarquia iniciática tem uma qualificação particular que lhe confere uma particularidade original: “É formada essencialmente por graus de “conhecimento”. » É aliás, diz Guénon, “nisto que consistem propriamente os próprios graus de iniciação, e nenhuma consideração diferente daquela pode intervir neles”. Como tal, as Hierarquias iniciáticas usam frequentemente o símbolo da pirâmide para ilustrar e tornar visível a estrutura da sua própria forma organizacional.
No entanto, teremos o cuidado de distinguir a Hierarquia conhecida como “graus”, que se refere unicamente ao nível espiritual ou conhecimento dos seguidores, da Hierarquia de “função”, que simplesmente responde a uma distribuição de encargos relativos ao bom funcionamento do trabalho de qualquer sociedade organizada. A confusão de uns com os outros pode revelar-se repleta de consequências negativas, das quais a história, infelizmente, muitas vezes nos oferece o triste espetáculo.
A única e verdadeira Hierarquia é portanto a Hierarquia dos “graus”, aquela que é autenticamente essencial, e que é de fato, “a marca particular da constituição das organizações iniciáticas”, acrescentaríamos com alegria, digna deste nome, por isso quando se faz referência à noção de Hierarquia no nível tradicional, saberemos que é sempre a hierarquia dos “graus”, “porque é só ela que define as sucessivas “eleições” que vão gradualmente de um simples apego iniciático à identificação com o “Centro”. Este “centro” não é, observemos, apenas aquele que no final dos “Pequenos Mistérios” se conecta com o centro da individualidade, mas muito mais, o “Centro do ser total” relativo aos “Grandes Mistérios”, aquele que leva à realização da “Identidade Suprema”.
(RGAI, cap. XLIV, “Sobre a hierarquia iniciática”. CMM, cap. VI, “Caos social”. AEPT, cap. I “Autoridade e hierarquia”, cap. V “Dependência da realeza do sacerdócio”, cap. VI, “A revolta dos Ksha-triyas”.)
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