Espada

(DRG)

Foi em 1947, num estudo publicado num número especial dos Cahiers du Sud intitulado “Islam and the West”, e sob o nome “Sayful-Islam”, que Guénon desenvolveu em toda a sua profundidade o simbolismo da Espada. É claro que já tinha abordado este tema antes, nomeadamente no seu texto sobre “Armas Simbólicas”, em 1936, em Estudos Tradicionais, mas também, ainda antes, em livros como “RGRM” e “AEPT”, mas nunca de forma tão precisa como o fez em “Sayful-Islam”.

Guénon baseia-se num famoso hadith do profeta, um hadith que ele proferiu após uma luta contra inimigos externos, para desenvolver a sua análise do simbolismo da Espada. Este hadith é este: “Rajâna min el jihâdil-açghar ila’l-jihâdil-akbar” (Voltamos da pequena guerra santa para a grande guerra santa). No entanto, escreve René Guénon, “tudo o que é utilizado para a guerra externa pode ser tomado como um símbolo do que diz respeito à guerra interna”, pelo que isto se aplica particularmente à Espada, a arma por excelência do combatente. Isto também é confirmado pelo uso de uma espada de madeira, na mão do khatîb, ao pregar aos fiéis. A Espada de madeira (sphya) também foi usada na Índia na realização do sacrifício védico, como imagem do raio (vajra), esta assimilação entre o raio e a Espada é sem dúvida encontrada na “Espada Flamejante”, uma forma de Espada bem conhecida pelos Maçons. A Espada portanto, que através desta função durante a pregação do khatîb, está ligada ao poder da palavra, encontra aqui o que já tinha como significado no Cristianismo, como mostra o versículo do Apocalipse: “Ele tinha na sua mão direita sete estrelas, e da sua boca saía uma espada de dois gumes e bem afiada” (Ap. I, 16). Quando sabemos que é a Palavra em questão, percebemos que o poder da palavra, através da sua capacidade destrutiva e criativa, é intimamente idêntico ao raio como manifestação divina. Não esqueçamos, também, que o próprio Cristo disse: “Eu não vim trazer a paz, mas a espada” (Mt. X, 34), confirmando o carácter eminentemente sagrado e axial desta arma.

Como tal, especifica Guénon, as armas simbólicas, entre as quais a Espada é certamente a mais representativa, são na realidade símbolos do “Eixo do Mundo”. Esta referência ao “Eixo”, que é também no Extremo Oriente “o meio invariável”, a harmonização dos opostos, o equilíbrio e a estabilidade, dá-nos a chave do significado mais profundo da Espada, na medida em que esta já não aparece nesta fase de compreensão como um instrumento, um simples meio, mas o próprio fim, o resultado e a “Origem” que devemos encontrar.

(SFCS, cap. XXVI, “Armas Simbólicas”, cap. XXVII, “Sayful-Islam”.)

Veja Lance, Vajra, Verbo.