Frithjof Schuon – Da Unidade Transcendente das Religiões (FSUTR)
X. Ser homem é conhecer (capítulo da primeira edição retirado na revisão)
A evidência da unidade transcendente das religiões emerge, não apenas da unidade da Verdade, mas também da unidade do gênero humano. A razão suficiente da criatura humana é saber pensar; não qualquer coisa, mas o que importa, e, no final das contas, o que realmente importa. O homem é o único ser na Terra capaz de prever a morte e que pode desejar sobreviver; que deseja – e pode – saber o porquê do mundo, da alma, da existência. Ninguém pode negar que é da natureza fundamental do homem fazer essas perguntas e, consequentemente, ter direito às respostas; e ter acesso a elas em virtude desse mesmo direito, seja pela Revelação ou pela Inteleção, cada uma dessas fontes agindo de acordo com suas próprias leis e dentro das condições correspondentes.
Às vezes, gostaríamos de nos desculpar por parecer estar “abrindo portas já abertas”, se não vivêssemos em um mundo onde as portas normalmente abertas são habilmente fechadas; e isso cada vez mais, pelos cuidados de um relativismo psicologista e subjetivista, ou mesmo biologista, que ainda ousa se chamar de “filosofia”. Vivemos, de fato, em uma época em que a inteligência é metodicamente arruinada em seus próprios fundamentos, e onde se torna cada vez mais oportuno falar sobre a natureza do espírito; mesmo que seja apenas como uma “consolação” ou para fornecer alguns argumentos, “para todos os fins úteis”.
Dizendo isso, lembramos de uma passagem do Alcorão: Abraão pede a Deus que lhe mostre como Ele ressuscita os mortos; Deus responde com a pergunta: “Ainda não acreditas?” Abraão responde: “Sim, mas peço isso para que meu coração fique em paz.” É nesse sentido que sempre nos parece permitido relembrar verdades que são evidentes por si mesmas, possivelmente até conhecidas por todos, especialmente porque as verdades mais conhecidas são frequentemente também as mais mal compreendidas.