Recusar ou aceitar a revelação (FS)

Frithjof Schuon – Do Divino ao Humano (FSDH)

RECUSAR OU ACEITAR A REVELAÇÃO — tópicos

  • A verdade não pode ser validamente examinada em termos de erro – contra uma objeção de agnósticos e céticos
  • Exemplo do Islã e depois do Cristianismo
  • Cristo contra os fariseus
  • A gravíssima divisão doutrinária entre fariseus e saduceus na época de Cristo
  • Distinção entre lógica pura e simples e lógica bíblica, semântica ou moralista
  • Duas razões para evitar uma mensagem religiosa
  • Judaísmo e Cristianismo, São Paulo e a “desjudaização” do Cristianismo
  • O problema do papado
  • Do aristotelismo
  • Absurdos das escrituras sagradas, motivo de descrença?
  • Necessidade de comentários tradicionais
  • Algumas dificuldades bíblicas
  • Le Credibile porque ele é tolo em relação a Tertuliano
  • As contradições dogmáticas que separam as religiões
  • Por que a “nossa” religião não é a única verdadeira?
  • “Solipsismo” religioso
  • Sobre um ecumenismo livre e sentimentalista
  • Divergência entre o Cristianismo e o Islã
  • O preconceito do “só acredite no que vê”. Contra os cientistas
  • Contra o método científico
  • Sobre o argumento da eficácia moral da legislação divina
  • Nota sobre os “sonhadores” do século XVIII
  • O que as pessoas precisam para encontrar sentido na vida
  • Do industrialismo
  • Nota sobre Gandhi
  • Circunstâncias atenuantes da dúvida
  • Sobre a aparição dos Mensageiros combinando santidade e beleza
  • Mensagem divina e natureza do receptáculo humano
  • Do abuso de inteligência
  • Solução fundamental para o problema da credibilidade dos axiomas religiosos
  • Mito e arquétipo em qualquer religião
  • Yin-Yang
  • O que significa acreditar em Deus?

EXTRATOS

A pluralidade das religiões não é mais contraditória do que a dos indivíduos: na Revelação, Deus torna-se, por assim dizer, um indivíduo para se dirigir ao indivíduo; a homogeneidade em relação às outras Revelações é interior e não exterior.

 

Mas isto não pode vincular o esoterismo: por um lado porque não é uma Mensagem religiosa e porque vem do Intelecto e não da Revelação, e por outro lado porque é dirigido a homens que não precisam de uma sugestão de singularidade e exclusividade, ao nível da expressão, para apreender o carácter do Absoluto em declarações sagradas.

 

Por outras palavras: o contraste entre o carácter absoluto da Revelação e o seu aspecto da relatividade constitui indirectamente mais uma prova – juntamente com provas directas e históricas – da realidade e necessidade da dimensão esotérica específica de todas as religiões; tanto é assim que as religiões, no momento em que pareciam derrotadas pela experiência, afirmam-se vitoriosamente a todos os níveis pela sua própria essência.

 

[…] que aceita o contraditório de jure e não apenas de facto, e como se o contraditório religioso – assumindo que não está apenas nas mentes dos cientistas – não implicasse a consciência de uma não-contradição subjacente conhecida apenas por Deus! O que significa a opinião teológica de que a mente humana tem limites, e o que significam os mistérios na medida em que supostamente ultrapassam a razão, exceto que o homem é incapaz de perceber a realidade total e homogênea por trás das contradições nas quais se detém a sua miopia? A referência à autoridade divina do Apocalipse não significa outra coisa senão isso, e é tão óbvia que gostaríamos de pedir desculpas por apontá-la.

 

Agora, além do fato de que, para saber o que é, seria necessário ser um Profeta ou ouvir um Profeta pregar, a opinião em questão peca por uma ignorância flagrante no que diz respeito ao fenômeno da Revelação e da fé, depois pela menção de princípio de que Deus não existe; porque se Deus é real, necessariamente encontra um modo de se fazer ouvir e de ser acolhido.

 

A questão toda é atualizar esta coincidência, que é precisamente o que a Revelação faz, em princípio ou de facto, que desperta, se nem sempre o Intelecto direto, pelo menos este Intelecto indireto que é a Fé; credo ut intelligam.

 

Por um lado, o Princípio tende a “punir” ou “destruir” a manifestação porque, como contingência, não é Ele, ou porque tende a ser ilusória e com intenção luciferiana, em suma porque “só Ele é”; por outro lado, o Princípio “ama” a manifestação e “lembra” o que é Seu, que “não é outro senão Ele”, e é nesta perspectiva ontológica que se insere o mistério da Revelação, da Intercessão, da Redenção.