No que diz respeito às categorias “sujeito” e “objeto”, começaremos por reconhecer a evidência de que o objeto é a realidade em si, ou a realidade considerada sob o aspecto de sua perceptibilidade, enquanto o sujeito é a consciência em si, ou a consciência considerada sob o aspecto de sua faculdade de percepção. No entanto, há, de cada lado, a relação de reciprocidade e a de divergência. Sob o primeiro aspecto, diremos que o mundo enquanto percepção faz parte do sujeito, que o percebe, e que, inversamente, o ego enquanto coisa perceptível pelo sujeito — portanto, exterior a ele — faz parte do objeto; sob o segundo aspecto, o da divergência, oporemos o “em si” evidentemente objetivo à pura consciência “recolhida sobre si mesma”; o que nos leva, em última análise, à transcendência, por um lado, e à imanência, por outro, as quais se encontram no Único e no Indivisível.
No plano do conhecimento intelectual ou mesmo simplesmente racional, a complementaridade “objeto-sujeito” é o paralelismo entre o ser e o pensamento, a coisa e a noção, a situação formal e a adequação nocional; esse é o fundamento da lógica aristotélica — ou da lógica em geral — cuja chave é o silogismo. Observemos, a propósito, que os modernos, quando falam de “objeto” e “sujeito”, tendem a pensar que o primeiro é incognoscível e que o segundo é incapaz de conhecimento exato; ou seja, gostam de evocar o espectro do “em si” (das Ding an sich) e o da suposta inadequação da cognição. Na realidade, o conhecimento do contingente ou do relativo é necessariamente contingente ou relativo não no sentido de que não seria adequado — pois a adequação é a razão de ser do conhecimento — mas no sentido de que só podemos perceber do objeto um aspecto de cada vez, o qual depende do nosso ponto de vista, precisamente o do sujeito. Somente o conhecimento do Absoluto é absoluto, e o é porque, na gnose, o Absoluto se conhece a si mesmo no âmago do sujeito humano; esse é todo o mistério da imanência divina no microcosmo.
(Frithjof Schuon, Avoir un centre FSAC)