Hermetismo

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Pertencente ao domínio da “iniciação real”, o hermetismo, que vem da tradição egípcia, foi transmitido de forma helenizada na Idade Média, tanto no mundo cristão como no mundo muçulmano e, além disso, explica Guénon, ao mundo cristão especialmente por intermédio do mundo muçulmano. O próprio nome alquimia é, portanto, apenas a transposição de el-kimyâ que tem origem em Kêmi (Terra Negra), ou seja, o próprio nome sempre dado ao antigo Egito.

Referência direta ao deus Hermes, ou seja, o equivalente grego do deus egípcio Thoth, a doutrina do Hermetismo parece carregar a este respeito uma dimensão incontestável de soberania, o que explica o seu nome “Arte Real”. A sua ligação ao Princípio parece, pelo menos inicialmente, torná-la uma iniciação completa, uma vez que, como sabemos, uma iniciação autêntica deve incluir, além do seu poder temporal, uma ligação ao Princípio superior.

No entanto, Guénon julga que o Hermetismo já não constitui um todo tradicional completo, devido à ausência nele de um Conhecimento verdadeiramente sacerdotal e metafísico. Portador de elementos cosmológicos, ou seja, um aspecto secundário e contingente relativo ao mundo intermediário, o domínio da manifestação sutil onde, como escreve Guénon, “se localizam as extensões extracorpóreas da individualidade humana, ou as próprias possibilidades cujo desenvolvimento diz respeito propriamente aos “pequenos mistérios”, o hermetismo tornou-se objeto de pesquisas limitadas”.

No entanto, parte integrante do esoterismo cristão e islâmico, este fragmento da tradição egípcia serviu de veículo para uma série de ensinamentos, alguns dos quais eram de ordem muito elevada. Contudo, Guénon supõe que o hermetismo poderia ter servido de apoio em algum momento à revolta dos Kshatriyas contra os brâmanes, isto devido às predisposições naturais desta ciência que pode “facilmente, desde que se apresentem circunstâncias favoráveis”, desenvolver-se em apoio ao desvio representado pela revolta da segunda casta. A técnica da “Arte Real”, muito adaptada à natureza dos Kshatriyas devido ao seu caráter “metalúrgico”, esconde no entanto uma dimensão interior, que é mesmo a única e verdadeira “alquimia” digna desse nome. Totalmente estranha a qualquer química vulgar, esta autêntica prática espiritual permite-nos compreender, através da implementação da correspondência analógica dos opostos, as leis mais profundas do universo, cavando cada vez mais fundo na nossa própria interioridade.

Dado que “o homem é o símbolo da Existência universal”, se conseguir penetrar no Centro do seu próprio ser, diz René Guénon, alcança assim o conhecimento total. Este conhecimento faz com que ele veja “todas as coisas na unidade suprema do próprio Princípio, na qual toda a realidade está “eminentemente” contida”.

(RGAI, cap. XLI, “Algumas Considerações sobre Hermetismo”.)

Veja Arte Real, Metalurgia, Mistério.